Capela Nosso Senhor do Bonfim - Túmulo de Santa Josefa
- patrimonioreligios
- 5 de ago. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 1 de nov. de 2024

Fig. 1. Capela Nosso Senhor do Bonfim, 2024. Fonte: Julia de Brito.
A Capela Nosso Senhor do Bonfim, popularmente conhecida como Capela de Santa Josefa é uma capela singela, por vezes até despercebida, mas que carrega um grande significado da fé popular dos cachoeirenses.
Quem foi Santa Josefa?
Uma escravizada chamada Maria José, que sofreu severamente na mão de quem a escravizou. Porém, a forma como seu corpo foi encontrado e a forma como foi morta é o que difere entre as versões mais conhecidas, descritas a seguir:
Após cometer um pequeno delito, a escrava foi açoitada até sua morte e enterrada como indigente. Anos após isso, sangue começou a jorrar de sua cova e ao cavarem encontraram seu corpo intacto, completamente mumificado;
A jovem escravizada chamava atenção de seu patrão, gerando raiva em sua esposa. Enquanto o patrão estava fora, a mulher ordenou seu açoitamento, que acarretou na morte da linda moça. Tempos depois, um braço erguido apareceu na cova, que não podia ser colocado de volta na terra, sendo considera a alma da falecida clamando por justiça;
A escrava Josefa preparava o banho de seu patrão. Certa vez, o banho não estava na temperatura adequada para ele, que a afogou até que ela parasse de se debater. Quando ocorreu ele saiu do cômodo, porém a moça ainda estava viva e com medo se enforcou no local. Por crenças religiosas, uma pessoa que age contra si próprio não pode ser enterrada junto às pessoas que morreram por outras causas e por isso, ela foi sepultada onde atualmente está localizada a capela.
Apesar de pouco conhecida entre os mais jovens e de ainda não ter sido canonizada pelo Vaticano, esta lenda é extremamente creditada pelos mais velhos. Além disso, pessoas de várias cidades e países viajam até Cachoeira do Sul para rezar e fazer promessas a fim de que a escrava interceda em prol das graças pedidas.
Fig. 2: Placas em agradecimento à Santa Josefa pelas graças alcançadas. Foto: Julia de Brito
Uma das graças atendidas é a de Elonita Roso Dias, que desenvolveu depressão após perder o marido e familiares, e por isso, desde 1995, ela visita a capela diariamente para orar pelas pessoas que sofrem do mesmo mal. “Acredito veementemente na existência e nos poderes milagrosos da escrava. Não me importo que ela não seja canonizada. Mas todos os dias me esforço para não esquecê-la”
Saiba mais em: https://librumsite.wordpress.com/2016/06/16/fe-popular/.

Fig. 3. Oração à Santa Josefa. Foto: Julia de Brito.
"A Capela de Santa Josefa é triplamente patrimônio cultural do município: pela lendária figura que cultua, pela arquitetura que ostenta e pela inegável devoção que desperta." -RITZEL, Mirian- 2013.
História da Capela
O devoto Francisco Bifano, com o auxílio de Vicente Polito, da comunidade, do comércio e do jornal "O Commercio" começou a campanha para construção da capela, situada na Rua Comendador Fontoura, em 22 de maio de 1912. No entanto, as obras começaram somente em 4 de junho de 1928, quando o engenheiro chefe das Obras Públicas da Intendência Municipal Dr. Leopoldo Souza escolheu o local, e após, instruiu o construtor Sebastião Moser, que concluiu a capela em 29 de agosto de 1928.
A capela foi erguida onde anteriormente se encontrava a senzala de uma fazenda, situada próxima à Sanga da Micaela, que após a abolição da escravidão, tornou-se um reduto de negros.
A primeira inciativa de Francisco Bifano, comerciante local, foi colocar um cofre em seu estabelecimento para arrecadar donativos destinados à construção da Capela. Logo, o jornal O Commercio apoiou a ideia e publicou a seguinte nota: “Abrimos espaço em nossas colunas ao justíssimo e louvável apello de alguns devotos conterrâneos, ao religioso povo cachoeirense, para a ereção de uma capella a Santa Josefa, no lugar que já de tantos anos lhe é consagrado. Figura ali apenas uma singela cruz de madeira com que a piedosa mão dos crentes, assinalou o jazigo de legendária santa, sobre quem já disse proficientemente consta-nos – o senhor Aurelio Porto, em suas Memorias de Cachoeira”.
Em 21 de agosto de 1912, o mesmo jornal publicou uma lista de doações, totalizando 130.000 réis, provenientes de 18 contribuintes, conforme a figura 4.

Fig. 4: Jornal O Commercio, donativos para a construção da Capela. Fonte: Museu Municipal.
Os esforços e campanhas dos simpatizantes e devotos de Santa Josefa se prolongaram por 16 anos. Em 1915, como parte de uma promessa feita à santa, Francisco Bifano mandou cercar com uma grade de ferro a cruz que marcava o local do túmulo de Josefa.
Arquitetura
Nos últimos anos a capela sofreu diversas alterações em sua fachada como, por exemplo, a área coberta que foi construída na parte externa devido as intensas chuvas e calor excessivo. Entretanto, a cobertura está em um nível mais baixo comprometendo a leitura dos elementos pré-existentes da fachada original.
Além disso, ocorreu também alterações na pintura da capela que, atualmente, está pintada da cor rosa claro.
Fig. 5: Mosaico de fotos. Respectivamente: Antiga capela de Santa Josefa. Ano desconhecido. Fonte: RITZEL,2013; Capela de Santa Josefa. Ano desconhecido. Fonte: MMEL; Capela de Santa Josefa em 2013. Fonte: RITZEL, 2013; Capela em 2024. Fonte: Acervo pessoal de Julia de Brito.
A capela possui uma planta retangular simples, com um pequeno altar ao fundo, que possui elementos originais da época da construção e imagens de santos doadas pelos fiéis ao longo dos anos, destacando-se duas imagens da Santa Josefa.

Fig. 6: Planta da Capela Nosso Senhor do Bonfim. Desenho: Luiza Flores.

Fig. 7: Altar da Capela Nosso Senhor do Bonfim. Fonte: Julia de Brito.
Fig. 8: Mosaico das duas imagens de Santa Josefa na capela. Foto: Julia de Brito.
Assim como a fachada, o interior da capela também passou por alterações ao longo do tempo. Recentemente, o piso foi alterado para um cerâmico, que imita textura de madeira, e nos bancos foi substituído o verniz por uma tinta cor caramelo, escondendo a materialidade original.

Fig. 9: Atual piso e bancos pintados, 2024. Fonte: Julia de Brito.
Felizmente, a doação de um novo forro de madeira pela Madeireira Hoffman para a Capela Santa Josefa, permitiu que o original não fosse substituído por outro tipo de material incompatível com esta edificação inventariada e reconhecida como Patrimônio Histórico do município de Cachoeira do Sul.
O forro azul escuro abriga um imponente lustre de metal e um roda teto de madeira trabalhado, que é acompanhado de duas luminárias para parede feitas do mesmo material e acabamento. Entretanto, uma das luminárias foi furtada.
Fig. 10: Mosaico mostrando lustre central e luminárias de parede da capela. Fonte: Julia de Brito.
Na parte externa, observa-se a porta principal em madeira com arco pleno e acabamento em verniz azul, além de ser emoldurada por ladrilhos ornamentados com folhagens. Infelizmente, na última pintura da capela, as ferragens originais foram cobertas pela mesma tinta da madeira, ocorrendo mais uma descaracterização, que compromete a beleza do edifício.
Fig. 11: Mosaico com detalhes da porta. Fonte: Julia de Brito.
A edificação é coroada por um frontão discretamente ornamentado com molduras e, no centro, um triângulo menor com um olho no meio, que pode ser interpretado como a representação da divina providência. Entretanto, não se há certeza de qual teria sido a intenção do decorador. Na ponta do frontão, há uma cruz, que, atualmente, está pintada de rosa claro.
Fig. 12: Exterior da Capela. Fonte: Julia de Brito.
Confira abaixo o vídeo exclusivo de tour pelo interior da Capela de Santa Josefa!
Gravação: Julia de Brito.
Localização
Comments